quarta-feira, julho 22, 2015

"John Doe"

Deambula pelas ruas da cidade dia e noite. Sozinho ou acompanhado lá vai ele com o seu chapéu a a sua pasta. Por todas as esquinas e cafés lá pára e dá dois dedos de conversa. À noite, por norma, salta de bar em bar ou, em noites mais calmas, escolhe um e fica por lá. Há sempre alguém, que quando passa por ele, lá cumprimenta e senta-se e ficam de prosa. Observo. Questiono. Não chego a conclusão nenhuma. Todos os dias cruzo-me com este senhor e já aceno com a cabeça, pois já não somos estranhos, apenas meros conhecidos. Com ar de quem já passou por muito na vida, o seu olhar é carregado de mágoa e de tristeza, mas, por vezes, lá detecto uma réstia de alegria e pergunto-me o que será. Primeiro amor? Enumeras paixões? Filhos? Netos? E o senhor segue com a sua rotina. Querido por muitos pelos lugares por onde passa. Parece que conhece meia cidade. A outra metade vai conhecendo. Uma certa vez, num bar, esteve uma meia-hora a falar com alguém de fora. Belga, talvez. A curiosidade aumentou nessa noite. Então, fui ter com ele quando reparei que estava sozinho. Fez sinal para que me sentasse e pedimos. Com isto, foi-se quebrando o gelo e pelos minutos que se seguiram lá fomos falando da vida, de ocasiões e situções. Por fim, lá me despedi e o senhor ficou bebericando e trauteando a música ambiente. Ao sair do bar percebi que a noite era fresca e no céu viam-se algumas estrelas. Perdi a noção de tempo e espaço. Depois desta noite cruzei-me poucas vezes com o senhor até que nunca mais o vi. Gostaria de saber o que lhe aconteceu mas nunca se apresentou. Questiono. Continuo sem uma conclusão.